quinta-feira, 18 de julho de 2024

Uma Introdução ao Estudo Sobre os Povos Indígenas do Brasil

Quando pensamos nos povos que vivem no Brasil desde antes da chegada dos portugueses, pensamos na figura do “índio”. Essa visão é influenciada pela representação homogeneizante dos povos indígenas contida nos livros didáticos mais antigos e naquela trazida pela mídia. Imaginamos que o “índio” é aquele que habita as matas, vive em ocas não usa roupas, pinta o corpo, enfeita-se com penas e caça com arco e flecha. Porém, essa imagem apaga toda a diversidade existente entre os vários povos indígenas que vivem em nosso país.

Fonte da imagem: Wikipedia

Esses povos são mais corretamente chamados de ameríndios, de povos originários ou de nativos, pois habitam o território brasileiro há aproximadamente 15 mil anos, ou seja, estão aqui muito antes da chegada dos portugueses. Eles se dividem em várias etnias, cada uma com sua cultura e a sua língua.

Calcula-se que viviam entre 80 e 100 milhões pessoas em todo o continente americano antes da colonização europeia. No Brasil, esse número variava entre 2,5 milhões e 5 milhões de pessoas. Existem três teorias que explicam como esses seres humanos chagaram nas Américas. A Teoria do Estreito de Bering é a primeira delas e diz que os primeiros seres humanos a posarem nas américas vieram pelo Estreito de Bering, situado entre a Ásia e a América do Norte, há 50 mil anos, e espalharam-se pelo continente.

Fonte da imagem: Brasil Escola

A segunda teoria é chamada de Malaio-Polinésia e afirma que grupos da Polinésia acessaram a América do Sul se utilizando de pequenas canoas, há 10 mil anos.

Fonte da imagem: Science AQ

A terceira teoria é o Modelo dos Dois Componentes Biológicos e defende que houve duas correntes migratórias com origem no Nordeste da Ásia para as Américas: uma mais antiga, ocorrida há 14 mil anos, com seres humanos com características físicas semelhantes aos povos africanos e aos aborígenes australianos, e outra mais recente, que aconteceu 12 mil anos atrás, com pessoas mais parecidas fisicamente com os indígenas atuais.

Fonte da imagem: Brasil de Fato

O intelectual indígena Kaká Werá Jecupé entende que os povos ameríndios são aqueles que se integraram à natureza de tal forma que construíram suas civilizações e suas culturas em virtude dessa integração. Foi a partir da natureza que esses povos desenvolveram tecnologias, teologias e visões de mundo, que criaram formas de viver em meio aos vários biomas do Brasil, com sua fauna e sua flora, daí a sua diversidade cultural.

Didaticamente, os povos indígenas brasileiros são divididos em grupos de acordo com as línguas que falam. Existem atualmente cerca de 160 línguas indígenas no Brasil, organizadas em troncos e famílias linguísticas. Um tronco linguístico é formado por línguas que tiveram uma origem comum há milhares de anos, e, por isso, são sutilmente semelhantes. As famílias estão dentro dos troncos linguísticos. São conjuntos de línguas mais parecidas, por terem se diferenciado mais recentemente. Existem dois grandes troncos linguísticos indígenas em nosso país: o Tupi, com 10 famílias (Tupi-Guarani, Arikém, Aweti, Juruna, Mawé, Mondé, Puroborá, Munduruku, Ramarama e Tupan), e o Macro-Jê, com nove famílias (Boróro, Krenák, Guató, Jê, Karajá, Maxakali, Ofayé, Rikbaktsá e Yaté). Existem também 19 famílias linguísticas que não possuem semelhanças suficientes para serem organizadas em troncos (Aikaná, Arawá, Arúak, Guaikuru, Iranxe, Jabuti, Kanoê, Karib, Katikuna, Koazá, Máku, Makú, Mura, Nanambikwára, Pano, Trumái, Tikúna, Tukano, Txapakúra e Yanomami).

Fonte da imagem: Ovelha Negra

O grupo indígena mais numeroso do Brasil é o Tupi, que habita a maior parte do litoral do país. Quando os portugueses chegaram aqui, em 1500, foi com os povos Tupi que tiveram os primeiros contatos. Foi a partir da língua tupi que os jesuítas desenvolveram a língua geral, a partir da aplicação nela da gramática e da ortografia portuguesas. A língua geral foi utilizada não somente para a comunicação com os indígenas do litoral, mas foi falada por todos os brasileiros nas comunicações cotidianas até Marquês de Pombal, primeiro-ministro português, expulsar os jesuítas do Brasil em 1759. 

Apesar de terem culturas e línguas diferentes, os povos indígenas brasileiros possuem características semelhantes. Além da integração com a natureza, da qual já falamos, podemos destacar como essas características o sentimento de pertencimento a uma comunidade específica, que é vista como diferente de outras comunidades com as quais interagem e da sociedade nacional abrangente, a valorização da coletividade e o estabelecimento de relações de reciprocidade com os territórios que ocupam e com seus habitantes, sejam eles humanos ou não humanos.

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