quarta-feira, 20 de março de 2024

Os Reinos Africanos Pré-Coloniais: Os Reinos do Vale do Níger

O Norte do Rio Níger, na África Ocidental, foi palco do desenvolvimento de uma série de reinos e impérios sequenciais, ou seja, que se desenvolveram um após outro. Esses reinos estabeleceram relações comerciais com os povos da África do Norte, pelo Deserto do Saara, e tiveram grande riqueza proveniente de tal comércio. Os comerciantes do Norte da África chamavam a África Subsaariana, em que os Reinos do Vale do Níger estavam estabelecidos, de Sudão, que significa terra dos negros, em árabe. 

Fonte da imagem: IMGBIN

O REINO DE DJENNÉ

Djenné já era uma grande cidade cercada por muralhas três séculos antes da era cristã. Estabeleceu-se no território do atual país do Mali. Teve seu apogeu entre 750 e 1115 DC, quando contava com mais de 20 mil habitantes.

Suas principais atividades econômicas eram a mineração, a metalurgia (trabalho com o ferro), a ourivesaria (trabalho com o ouro), a agricultura (principalmente arroz) e o comércio.

Possuía relações comerciais principalmente com a cidade de Timbuktu, com a qual estava ligada por uma rede de vias fluviais que perfazia 500 km. Nessas relações, comercializava sal, cereais e ouro.

Junto com Timbuktu e Gao, Djenné possuiu os primeiros centros universitários e culturais de que se tem registro no mundo. Um exemplo é a grande mesquita de Djingareiber, situada em Djenné.

Fonte da imagem: This is Africa

Suas elites se converteram ao Islamismo em 1400, por influência dos comerciantes do Norte da África com os quais se relacionavam.


O REINO DE GANA

O Reino de Gana estava situado no território dos atuais países do Mali e da Mauritânia. Fazia divisa com o deserto do Saara e não possuía saída para o mar, ocupando uma área inicialmente considerada inviável economicamente.

Fonte da imagem: World History Encyclopedia

Foi fundado no séc. VI pelo povo Soninké, que habitava as proximidades das margens dos rios Senegal e Níger, e teve seu apogeu entre os séc. IX e XII.

O território do Reino de Gana era rico em ferro, cobre, marfim e, principalmente, ouro, do qual tinha várias minas que eram controladas pela família real. Sua população domesticou camelos, o que possibilitou o contato com os povos do norte da África por meio do deserto.

Estabeleceu relações comerciais com o norte da África, tendo seus produtos chegando até o Egito por meio das rotas comerciais existentes no Saara. Seus principais produtos eram ouro, marfim, peles, penas de avestruz, sal, tecidos, cavalos, tâmaras e escravizados.

Além do comércio, o Reino de Gana praticava a metalurgia e a ourivesaria. O ouro também era utilizado para a produção de esculturas de alto valor artístico.

Fonte da imagem: Mundo Educação

Constituía-se em uma monarquia absoluta, cujos reis monopolizavam o processamento e o comércio do ouro, além do comércio de escravizados. Os reis também centralizavam em suas mãos o poder religioso, constituindo-se como sacerdotes.

A capital do Reino de Gana era a cidade de Koumbi Saleh e seu principal centro urbano-comercial era a cidade de Bambuk.

Fonte da imagem: Profissão História

Os Almorávidas, uma dinastia muçulmana de origem berbere, passou a atacar o reino a partir do séc. XI para saqueá-lo, visando fortalecer o império que estavam formando nos territórios da atual Mauritânia, Saara Ocidental, Marrocos e no sul da Espanha.

Na tentativa de minimizar a violência dos Almorávidas, a população de Gana converteu-se ao islamismo, o que não surtiu muito efeito. Pela destruição causada em virtude dos ataques almorávidas, rotas comerciais que passavam pelo reino desviaram-se para Djenné, Gao e Timbuktu.

Enfraquecido, o reino de Gana foi palco de lutas tribais. Nesse contexto, o Reino Sosso ascendeu e atacou Koumbi Saleh, dominando a região. Em 1240, foi incorporado ao Império Mali.


O IMPÉRIO MALI

O Império Mali foi fundado no séc. XIII por Sundiata Keita e teve seu apogeu no séc. XIV. Era formado pelo povo Malinke ou Mandinga, que islamizou-se a partir do contato com mercadores muçulmanos.

Fonte da imagem: World History Encyclopedia

Estabeleceu-se sobre o território do antigo Reino de Gana, quando Sundiata derrotou o Reino de Sosso, que ascendeu na região após a queda de Gana. Anexou também as cidades de Djenné, Gao e Timbuktu.

Fonte da imagem: World History Encyclopedia

Expandiu-se devido aos exércitos e à diplomacia de Sundiata, bem como às riquezas provenientes do comércio regional e das minas de ouro que possuía, e tornou-se um dos maiores impérios de toda a África.

Grande riqueza econômica, amplitude territorial e efervescência cultural foram alcançados pelo Império Mali sob o governo de Mansa Musa I, neto de Sundiata Keita. Nesse período, foram criados centros culturais islâmicos nas grandes cidades, como Timbuktu.

O Império Mali controlava as rotas comerciais que ligavam o Norte da África e o Rio Níger, passando pelo deserto do Saara.

Comercializava ouro, cobre, marfim, sal e escravizados que vinham de toda a África Ocidental. Além disso, desenvolveu a astronomia, a ourivesaria e a metalurgia.

Por volta do séc. XV, o Império Mali se enfraqueceu, devido à competição de rotas comerciais estabelecidas em áreas fora do seu controle, ao ataque dos Tuaregues, um povo muçulmano do Norte da África, e a guerras civis.


O IMPÉRIO SONGHAY

O Reino Songhay era contemporâneo do Reino de Gana, mas foi dominado pelo Império Mali. Enquanto o Império Mali enfraquecia, o povo Songhay se revoltou, declarou sua independência e ocupou parte do território do seu antigo algoz.

Fonte da imagem: World History Encyclopedia

Seu principal rei foi Suni Ali. Sob seu comando, o Império Songhay possuía uma cavalaria fortíssima e era o único reino africano que dispunha de uma frota naval. Suni Ali governou por 28 anos, lutou 32 guerras e venceu todas elas, expandindo o território de seu império.

Songhay tinha como capital a cidade de Gao e controlava o comércio transaariano a partir das cidades de Djenné e Timbuktu. Esta última cidade tornou-se o centro intelectual e religioso do império.

Fonte da imagem: Ensinar História

O Império Songhay não teve acesso às minas de ouro dos reinos anteriores, pois os portugueses as tinham dominado. Além disso, para beneficiar sua agricultura, desenvolveu técnicas de irrigação por canais. Essas técnicas foram trazidas para o Brasil pelos membros do império escravizados pelos portugueses.

Suni Ali se opunha à religião islâmica e combatia muçulmanos, por acreditar que os povos islâmicos tinham uma cultura diferente da do seu povo. Suni Baro, filho de Suni Ali, assumiu o trono e continuou a oposição aos muçulmanos, até ser deposto pelo general Mohammed Askia.

Mohammed Askia, que era muçulmano, tornou o Islamismo como religião oficial do Império Songhay, peregrinou à Meca e foi considerado Califa, ao impor as leis islâmicas ao seu império.

Mohammed Askia expandiu o Império Songhay em busca de novas rotas comerciais no sudeste, já que os portugueses dominavam o comércio do ouro na região. Ele foi conquistado pelo Marrocos, que já possuía armas de fogo, em 1591.

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