Com tantas crises acontecendo, como o capitalismo se mantém de pé ainda hoje? Isso acontece devido ao que chamamos de reestruturação produtiva. Em cada período de crise, o capitalismo se reinventa para não desaparecer, modificando a organização da produção, as relações de trabalho e a forma com que os Estados atuam na economia. Por isso, dissemos que o capitalismo passa por ciclos de expansão e crises constantes. Vamos ver agora como o capitalismo se reinventou para enfrentar as crises citadas anteriormente.
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No contexto da Grande Depressão, o Governo dos Estados Unidos, gerido por Franklin Delano Roosevelt, adotou uma série de medidas conhecida como New Deal, que significa Novo Acordo em Português. O New Deal envolveu uma forte intervenção do Estado na economia, com investimento em obras públicas nas áreas de habitação, abertura de estradas e saneamento básico, para a absorção da mão de obra das pessoas que estavam desempregadas. Além disso, o governo reduziu a jornada de trabalho, para que mais vagas de emprego fossem abertas. O Novo Acordo também contou com a implementação de importantes políticas sociais, como o estabelecimento de um sistema de seguridade voltado aos idosos, aos desempregados e às famílias carentes, e a oferta de subsídios aos estados, para a distribuição de ajuda financeira direta, de alimentos e de roupas aos cidadãos necessitados.
Fonte da imagem: História do Mundo |
Outra medida
tomada pelo Governo dos Estados Unidos para a contenção dos efeitos perversos
da Crise de 1929 foi a regulamentação do sistema financeiro do país, separando os
bancos comerciais, que são aqueles que aceitam depósitos e fazem empréstimos,
dos bancos de investimento, que são aqueles que trabalham com a negociação de
títulos e ações. Essa medida tinha como objetivo fazer com que as operações
cotidianas dos bancos comerciais não fossem afetadas por problemas causados nos
bancos de investimento. A gestão estatal dos Estados Unidos também implementou novas políticas fiscais e monetárias.
Entre as políticas fiscais, podemos destacar o aumento de impostos, para
financiar o New Deal, e o aumento de gastos públicos, para comportar os
investimentos que eram feitos nesse período. Como políticas monetárias, podemos
ressaltar a redução dos juros, que tinha como objetivo estimular o empréstimo e
o investimento, e o abandono do padrão ouro, desvinculando o valor do Dólar ao
valor das reservas de ouro possuídas pelo país, para que o governo pudesse
imprimir mais dinheiro, contribuindo para o aumento dos produtos estadunidenses
no mercado internacional.
O New Deal
teve influência da teoria do economista britânico John Maynard Keynes, segundo
a qual o Estado tem que intervir em três setores: 1) na economia, regulando a
produção, estimulando a poupança, garantindo o pleno emprego e controlando
setores estratégicos, como as telecomunicações e a geração e distribuição de
energia; 2) na esfera social, oferecendo a todos os cidadãos direitos sociais,
como saúde, educação e previdência; 3) na esfera administrativa, fortalecendo a
burocracia estatal e fomentando a gestão racional da coisa pública. Os
princípios defendidos por Keynes são a base das políticas de bem-estar social,
que foram implementadas nos Estados Unidos, após a Grande Depressão, e na
Europa, após a Segunda Guerra Mundial. Como vimos, essas políticas trazem
consigo a ideia de que o bem-estar da população é tão importante quando o
crescimento econômico dos países.
Fonte da imagem: Brasil Escola |
Os efeitos
perversos da Crise do Petróleo foram combatidos pela adoção do Toyotismo pelas
indústrias ocidentais, na esfera do mercado, e pela implementação de políticas
neoliberais, na esfera estatal.
O Toyotismo
foi um modelo de organização do trabalho e da produção desenvolvido no Japão,
na década de 1950, na Toyota Motor Company, que teve como idealizador o
engenheiro Taiichi Ohno. Ele foi adotado pelas indústrias ocidentais a partir
da década de 1970, em contraposição ao Fordismo, que era o modelo empregado até
então. O Fordismo tinha como principais características a produção em série de bens
padronizados e o estoque das mercadorias produzidas, que eram compradas
posteriormente. Além disso, as fábricas que adotavam esse modelo trabalhavam
com a ideia da linha de produção, na qual os trabalhadores realizavam
individualmente uma pequena tarefa da produção.
Fonte da imagem: Mundo Vestibular |
Por outro
lado, o Toyotismo trabalhava com o sistema Just-in-Time, no qual a
produção acontecia conforme a demanda do mercado, o que contribuía para a
redução dos estoques e permitia maior flexibilidade, para que as mudanças no
mercado fossem respondidas rapidamente. No que se refere à organização do
trabalho, o sistema japonês inovou com o conceito do trabalhador polivalente ou
multifuncional, que é aquele que domina mais de uma tarefa da cadeia produtiva,
e implementou as ilhas de produção, que eram equipes de trabalho que envolviam
vários funcionários. Por fim, a Toyota começou a contratar empresas
terceirizadas para o fornecimento de funcionários que trabalhavam em setores
não diretamente ligados à produção, como a limpeza e a segurança.
As políticas
neoliberais foram implementadas no mundo a partir das décadas de 1980 e 1990,
tendo como polos irradiadores os Estados Unidos, no governo do presidente
Ronald Reagan, e o Reino Unido, sob o comando da primeira-ministra Margaret
Tatcher. Sua adoção tinha como fundamento a ideia de que o Estado de Bem-Estar
Social que baseou as políticas nos Estados Unidos, após a Crise de 1929, e na
Europa, após a Segunda Guerra Mundial, foram incapazes de evitar os efeitos
catastróficos da Crise do Petróleo e, por isso, deveriam ser abandonadas.
Fonte da imagem: Blog do Pedlowski |
Essas
políticas têm como princípios a desregulamentação da economia, no sentido da
redução da intervenção estatal nos mercados, trazendo maior liberdade para as
empresas; a privatização, que representa a venda de empresas estatais para o
setor privado, devido à crença de que a gestão privada é mais eficiente do que
a administração pública; a redução de impostos, principalmente para as empresas
e os indivíduos mais ricos, com o argumento de que isso incentivaria o
investimento e o consumo; a austeridade fiscal, que consiste na redução de
investimentos públicos em áreas como saúde, educação, segurança e assistência
social, com o objetivo de controlar os gastos públicos e produzir superávit
nas contas dos governos; e a flexibilização das leis trabalhistas, com redução
de direitos e flexibilidade nas contratações e nas demissões de trabalhadores, com
a alegação de que isso traria mais dinamicidade ao mercado de trabalho.
No que se
refere ao mercado, a implementação dessas políticas neoliberais gerou
crescimento econômico em alguns contextos, como nos Estados Unidos e no Reino
Unido, já que as privatizações trouxeram mais competitividade para as empresas,
a redução de impostos, até certo ponto, favoreceu o investimento privado e a
austeridade fiscal restaurou a confiança do mercado nos governos. Porém, do
ponto de vista social, essas políticas são catastróficas. A desregulamentação
da economia impede o controle social das empresas, que operam sem considerar os
impactos sociais e ambientais das suas atividades e provocam desastres como o
de Brumadinho e de Mariana, em Minas Gerais. A redução de impostos e o corte
dos investimentos estatais em saúde, educação, segurança e assistência social acarreta
a perda da qualidade dos serviços públicos, sucateando esses serviços, trazendo
insegurança para a população e produzindo milhares de necessitados sem nenhuma
assistência. A flexibilização do mercado de trabalho provoca a precarização das
atividades laborais, já que os trabalhadores perdem seus direitos e têm que se
sujeitar a cargas de trabalho maiores com menor remuneração e à instabilidade
das suas atividades, para garantir a sua sobrevivência. As consequências disso
tudo são o aumento da concentração de renda na mão dos mais ricos e o
aprofundamento das desigualdades sociais nos países que implementam as
políticas neoliberais.
Fonte da imagem: Facebook de Alessandro Molon |
Para combater os efeitos catastróficos da crise dos subprimes, o Governo dos Estados Unidos tomou uma série de medidas que giraram em torno da estabilização financeira, das políticas monetárias, do estímulo fiscal e do apoio ao setor imobiliário, dentre outros.
Para conseguir a estabilização financeira do país, o
Governo Federal permitiu que o Departamento do Tesouro (órgão equivalente ao
nosso Ministério da Fazenda) comprasse dos bancos ativos problemáticos, como
hipotecas e títulos lastreados em hipotecas, investindo diretamente nas instituições
financeiras, e injetou bilhões de dólares em instituições financeiras que
corriam risco de falir, para evitar o colapso do sistema financeiro nacional. No
que se refere às políticas monetárias, o Federal Reserve (órgão equivalente ao
nosso Banco Central) reduziu as taxas de juros a quase zero, para estimular a
tomada de empréstimo e o aumento dos gastos por parte dos consumidores e das
empresas. Além disso, o Federal Reserve comprou grandes quantidades de títulos
do Tesouro e de títulos hipotecários, com o objetivo de injetar mais dinheiro
na economia. O estímulo fiscal foi garantido com investimentos estatais em saúde,
educação e energia, bem como com o corte de impostos e a concessão de benefícios
fiscais. Essas medidas visaram à criação de empregos, o incentivo ao consumo e
o apoio aos estados e municípios. Entre as medidas de apoio ao setor
imobiliário, podemos destacar a implementação de programas de apoio aos proprietários
de imóveis, como a renegociação dos termos dos empréstimos hipotecários, para
que eles se tornassem mais acessíveis aos proprietários.
Diante de tudo isso, podemos observar que mesmo aquele país que propala o discurso da não intervenção do Estado na economia precisa da ação estatal para ajudá-lo a enfrentar situações de crise. Essa ação tem como objetivo não só o socorro à população desse país, mas também a preservação do próprio sistema capitalista, sendo uma parte importante dos processos de reestruturação produtiva.
Fonte da imagem: Rede Humaniza SUS |
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