Na década de 1970, no contexto da Guerra Fria, o sociólogo estadunidense chamado Immanuel Wallerstein (1930 – 2019) desenvolveu a Teoria do Sistema-Mundo para oferecer uma nova interpretação sobre o capitalismo e suas dinâmicas. Para tanto, o autor utilizou alguns conceitos marxistas em sua obra.
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Fonte da imagem: Jacobina |
De acordo com Wallerstein, o mundo não é formado por países isolados, mas consiste em um sistema global interligado, no qual as nações estão interconectadas por relações econômicas, políticas e culturais. Para o autor, o sistema-mundo possui uma divisão internacional do trabalho por meio da qual os países desenvolvidos controlam os meios de produção e acumulam riqueza e os países subdesenvolvidos oferecem mão de obra e recursos naturais a preços baixos.
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Fonte da imagem: Isquierda Web |
Para a Teoria do Sistema-Mundo, o capitalismo é um sistema que abrange todo o planeta. Isso acontece porque ele se consolidou com os processos de expansão marítima e comercial europeia, nos sécs. XV e XVI, e do neocolonialismo e do imperialismo, no séc. XIX. Nesses contextos, o capitalismo se expandiu, em busca de recursos naturais e de novos mercados. Nessa linha, Wallerstein argumenta que, no sistema capitalista, existem ciclos de hegemonia, com a liderança política e econômica mundial se alternando ao longo do tempo. Desse modo, Portugal ocupou a liderança do mundo no séc. XV, os Países Baixos, no séc. XVII, o Reino Unido, no séc. XIX, e os Estados Unidos, no sec. XX.
Wallerstein divide o mundo e três categorias: o centro, formado pelos países economicamente desenvolvidos, tecnologicamente avançados e politicamente dominantes; a periferia, composta pelos países economicamente subdesenvolvidos, que fornecem matérias-primas e mão de obra a baixo custo aos países centrais; e a semiperiferia, constituída por países intermediários, que apresentam características tanto do centro como da periferia. Os países centrais são caracterizados por uma economia diversificada e avançada, pela inovação tecnológica, pela infraestrutura de alta qualidade, pela alta renda e elevado bem-estar de sua população e pela influência econômica e política global. Os Estados Unidos podem ser apontados como um exemplo de país central. Os países periféricos são caracterizados por riqueza em recursos naturais, pelo baixo desenvolvimento industrial, pela elevada pobreza e desigualdade, pela infraestrutura precária e pela instabilidade política e existência de conflitos internos. A República Democrática do Congo pode ser citado como um exemplo de país periférico. Os países semiperiféricos são caracterizados por alguma diversificação econômica, pelo desenvolvimento moderado, pela existência de relações econômicas complexas e pela capacidade de mobilidade socioeconômica. O Brasil figura como um exemplo de país semiperiférico.
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Fonte da imagem: Wikipédia |
Assim como as teorias que estudamos anteriormente, a Teoria do Sistema-Mundo aponta que o desenvolvimento econômico no sistema capitalista é intimamente desigual, sendo que os países centrais acumulam capital às custas dos países periféricos. Isso faz com que as desigualdades globais se perpetuem. Além disso, para Wallerstein, o sistema-mundo passa por ciclos de ascensão e declínio econômico, aos quais chama de ciclos de acumulação e crise. Nos períodos de acumulação, o centro global acumula riqueza e poder. Já nos períodos de crise, acontecem mudanças nos padrões de produção e comércio e conflitos, que alteram a estrutura global e a distribuição do poder político. Foi desse modo que a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais alteraram o sistema mundo, deslocando o núcleo hegemônico da Europa para os Estados Unidos.
Por fim, a Teoria do Sistema Mundo considera que existe uma interconexão entre economia, política e cultura, no sentido de que o poder econômico leva consigo o poder político e a influência cultural. Desse modo, os países centrais, além de dominarem economicamente os países da periferia e da semiperiferia, impõem a eles dominação política e cultural. Isso pode ser observado na hegemonia que os Estados Unidos exercem nos países da América Latina e na dominação que a França impõe nas suas ex-colônias da África.
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