quarta-feira, 3 de abril de 2024

Preconceito, Discriminação e Segregação

O racismo é um conjunto de práticas preconceituosas, discriminatórias e até mesmo segregatória contra determinados indivíduos e grupos que tem como base categorias raciais. Antes de explicar o que são categorias raciais e como elas motivam a prática do racismo, é importante definir o que são o preconceito, a discriminação e a segregação.

Fonte da imagem: FreePik

O preconceito é uma representação negativa construída sobre indivíduos e grupos, a partir de diferenças raciais, culturais, religiosas e outras existentes entre quem emite o preconceito e quem o sofre. Dois elementos são importantes para a formulação do preconceito: a diferenciação entre nós e os outros e o desconhecimento das características desses outros. Ao não conhecermos os outros, representamos seus modos de vida a partir de estereótipos, que são imagens simplificadas, formuladas pela generalização de características e comportamentos que atribuímos a eles. Os estereótipos não correspondem à realidade e contribuem para uma avaliação negativa dos outros. Por ser uma cidade turística, com ênfase no carnaval e em outras festividades, Salvador é representada no Sudeste como a terra da folia e sua população é vista como pouco habituada ao trabalho. Vemos aqui um exemplo de estereótipo que dá origem ao preconceito contra o povo soteropolitano, em particular, e baiano, em geral.

O antropólogo Kabengele Munanga demonstrou que, ao se organizar em um grupo étnico, os seres humanos tendem a valorizar características de seu grupo, como a língua, a religião e os hábitos alimentares, e a desvalorizar as características de outros grupos. A desvalorização das características de outros grupos gera desqualificação dessas características. É esse movimento que ocasiona o preconceito.  Grupos religiosos cristãos, ao valorizar os fundamentos e preceitos de sua religião, desvalorizam as doutrinas e práticas de religiões de matrizes africanas, como o Candomblé e a Umbanda, considerando-as negativas. Desse modo, vemos a ascensão do chamado racismo religioso.

Fonte da imagem: Brasil de Fato

A educadora Vera Maria Candau constatou que os preconceitos são enraizados e se atualizam na sociedade por serem disseminados pelos mecanismos educativos formais, como a escola, e informais, como a família, as instituições religiosas e os meios de comunicação. É assim que circulam em nossa sociedade várias representações da população negra como sendo preguiçosa, pouco inteligente e propensa à criminalidade. Quem, em sua família, nunca ouviu a expressão “serviço de preto” em relação a algo malfeito, ou viu nas novelas da televisão negros sendo representados ocupando postos de trabalho considerados socialmente inferiores, ou ainda percebeu que os jovens negros são os mais parados pela polícia ao andarem pelas ruas durante a noite?

Fonte da imagem: Expresso 61

A discriminação é a ação de tratar os outros de maneira diferenciada, tendo como base o preconceito. Enquanto o preconceito é uma ideia, a discriminação é um conjunto de práticas baseado na negação da dignidade igual e da igualdade de tratamento a determinados indivíduos e grupos, que são marginalizados e até excluídos socialmente. Há pouco tempo, as empresas colocavam “boa aparência” como pré-requisito para a contratação de funcionários em anúncios de vagas de empregos. Como “boa aparência”, entendia-se o fenótipo branco (pele clara, cabelo liso, nariz e lábios afilados). Hoje, as empresas não podem mais escrever isso nos anúncios, mas é comum pedirem currículo com foto e em muitos lugares não vemos negros trabalhando.

A discriminação ocorre de maneira visível e direta, quando uma pessoa negra é perseguida por seguranças ao transitar por lojas de um shopping, ou de maneira sutil e indireta, quando a maior parte dos moradores das favelas é formada por pessoas negras.

A segregação, por sua vez, é a discriminação praticada pelo Estado, por meio das leis. Trata-se da determinação de uma fronteira espacial ou social que separa as populações discriminadas do restante da sociedade, aumentando as desvantagens que elas sofrem em seu dia a dia. O Apartheid, na África do Sul, as Leis Jim Crow, nos Estados Unidos, e a Lei de Terras, no Brasil, são exemplos de discriminação praticada pelo Estado, logo, de segregação.

Chamamos de minorias as populações que são mais propensas a sofrer preconceito, discriminação e segregação. Esse conceito tem um significado mais sociológico e político do que numérico. Segundo dados do IBGE, os negros formavam 55,5% da população brasileira em 2022, sendo, numericamente, a maioria de nosso povo. Ainda assim, eles são um dos grupos que mais sofrem preconceito e discriminação no Brasil, por isso, são considerados uma minoria, no sentido sociológico e político do termo.

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