terça-feira, 12 de julho de 2022

Poder, Política e Estado: Os conceitos de Poder e Dominação


Fonte da imagem: Blog Sociologia na Cabeça

  • Podemos entender a política a partir de dois significados: o campo no qual se estabelecem as relações de poder ou a atividade de administração da coisa pública. Voltaremos depois ao conceito de política. Vamos estudar agora o conceito de poder e o de dominação.
  • Para Weber, poder é a capacidade que um indivíduo tem de fazer com que outros indivíduos cumpram a sua vontade, mesmo que eles não queiram.
  • O autor afirma que o conceito de poder é sociologicamente amorfo, ou seja, uma pessoa pode impor sua vontade às outras de várias maneiras. Por isso, o poder é mais difícil de ser estudado. Assim, Weber prefere utilizar o conceito de dominação, que é mais preciso e mais fácil de observar na realidade.
  • Na dominação, a obediência é voluntária, ou seja, as pessoas obedecem ao líder porque querem obedecer. Além disso, a dominação é legítima, ou seja, é aceita pela sociedade. Weber tenta explicar o que leva uma pessoa a obedecer voluntariamente a outra. Nesse processo, ele destaca os três tipos puros de dominação legítima:
  • Dominação tradicional: é a dominação que se baseia na tradição, no passado, nas práticas institucionalizadas do dia a dia. Na dominação tradicional, eu obedeço ao líder porque meu pai obedeceu ao pai dele, porque meu avô obedeceu ao avô dele e assim regressivamente. Weber relaciona a dominação tradicional aos patriarcas do antigo testamento. No Brasil, um exemplo de dominação tradicional é aquela exercida pelos coronéis, grandes latifundiários que ainda detém o poder político no interior do país.
  • Dominação carismática: na dominação carismática, eu obedeço ao líder porque acredito que ele tenha uma característica pessoal, inata, que o torna apto a liderar. Essa característica é o dom, que em grego é carisma. Entendo que o líder seja um bom negociador, tenha uma ótima oratória, conheça como ninguém os problemas do povo ou administre muito bem a coisa pública. Isso é dele e por isso que eu o obedeço. Weber relaciona a dominação carismática aos profetas do antigo testamento, visto que eles não eram das famílias dos patriarcas tradicionais, mas tinham um dom que vinha de Deus e era reconhecido pelo povo. Em nosso país, um líder sindical bem eloquente e articulado que arrasta multidões para sua causa é um líder carismático.
  • Dominação racional legal: é a dominação que tem como base o aparato jurídico da sociedade, ou seja, as leis que seguimos. Na dominação racional-legal, o líder adquire sua posição por meio das leis e deve respeitá-las em sua liderança. Eu o obedeço não por causa da tradição ou de alguma característica pessoal que ele possua, mas pela crença nas leis que fundamentam a sua liderança. Essa é a dominação da sociedade moderna, na qual elegemos nossos representantes e eles exercem seus mandatos tendo como base as leis da nossa sociedade.
  • Weber chama esses fundamentos da dominação de tipos puros porque, na realidade, eles não são observados isoladamente. No contexto brasileiro, por exemplo, vivemos em uma democracia moderna regulada por leis eleitorais, o que caracteriza a dominação racional legal. Além disso, no início do século XXI, o país elegeu Luiz Inácio Lula da Silva como presidente da república, sendo ele considerado um líder carismático. Por fim, como já vimos, em algumas localidades do Brasil, a liderança é exercida pelos coronéis, o que configura a dominação tradicional. Tudo isso aconteceu ao mesmo tempo.


O PODER PARA MARIO STOPPINO

Fonte da imagem: Facebook

  • Mario Stoppino (Itália, 1935 a 2001) é um cientista político italiano que difere de Weber em sua análise do poder, principalmente por mesclar poder e dominação no mesmo conceito. Para ele, poder é a capacidade de agir e produzir efeitos, já o poder social é a capacidade que um indivíduo tem de determinar o comportamento de outros indivíduos.
  • O poder, para Stoppino, é relacional, sendo essa relação triádica, ou seja, que envolve três elementos: 1) o indivíduo ou grupo que exerce o poder; 2) o indivíduo ou grupo sujeito ao poder; e 3) a esfera de poder ou onde o poder é exercido (hospitais, escolas, comunidades políticas etc.).
  • Quem exerce o poder modifica intencionalmente o comportamento dos outros. Quem está sujeito ao poder, modifica voluntariamente seu comportamento, embora não o faça livremente. Em outras palavras, quem está sujeito ao poder modifica seu comportamento não porque quer, mas porque quer evitar algo ruim que possa sofrer se continuar com o mesmo comportamento.
  • O poder não se baseia na força ou na violência, porque isso não provoca uma mudança de comportamento, mas no estado físico dos sujeitos (imobilização, aprisionamento, ferimento, morte). A manipulação é quando um sujeito A provoca uma mudança no comportamento do sujeito B, sem que B perceba que está agindo de acordo com a vontade de A.
Fonte da imagem: FreeJPG
  • Para exercer o poder, um sujeito tem que: 1) ter os recursos necessários para isso (riqueza, força, conhecimento, prestígio etc.); 2) saber usar esses recursos; e 3) encontrar alguém disposto a mudar seu comportamento segundo a vontade dele. Quando essa terceira condição não é atendida, mesmo sob o uso da força, temos o mártir religioso ou aquele que se recusa a entregar seus companheiros de conspiração, mesmo sob tortura.
  • Um sujeito pode mudar seu comportamento pela expectativa de que outro sujeito queira isso, seja para agradar este outro, seja para evitar uma reação ruim dele.

 

O PODER PARA NORBERTO BOBBIO

Fonte da imagem: Wikipédia

  • Norberto Bobbio (Itália, 1909 a 2004) afirma que existem três categorias de poder:
  • O poder econômico, baseado na posse de bens materiais. Por exemplo, o poder que o patrão exerce sobre o empregado.
  • O poder ideológico, baseado na dominância de determinadas ideias e na posse dos meios para a propagação dessas ideias. Por exemplo, o poder do sábio, do sacerdote, do intelectual e do cientista.
  • O poder político, baseado nos meios de exercício da coação ou da força física. Por exemplo, o poder do Estado moderno, que detém o monopólio dos meios do exercício da coação e da força física, como a justiça e a polícia.

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