sábado, 30 de abril de 2022

Trabalho e Sociedade: Weber e a Ética do Trabalho


 
Fonte da imagem: Portal Conhecimento Científico

  • Weber analisa o capitalismo a partir da sua dimensão cultural e não econômica, como fizeram Marx e Engels. O capitalismo, então, é uma cultura que surgiu na Europa por um motivo específico, e é esse motivo que o autor tentou desvendar em seu livro chamado A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.

  • O capitalismo, principalmente na sua forma industrial, surgiu porque vários indivíduos na Europa passaram a agir da mesma maneira, ao mesmo tempo, tendo como base um mesmo conjunto de ideias. Esse conjunto de ideias foram as doutrinas calvinistas e puritanas, surgidas na esteira da Reforma Protestante encabeçada por Martinho Lutero (Alemanha, 1843 a 1546).

  • João Calvino (Suíça, 1509 a 1564), dentre várias outras coisas, defendia que todos os seres humanos, por serem pecadores, estavam condenados ao inferno. Apesar disso, Deus, na sua infinita misericórdia, escolheu antes da fundação do mundo um grupo de pessoas para a salvação e para a vida eterna em sua presença. Desse modo, de acordo com a teologia calvinista, alguns nascem predestinados a salvação, enquanto outros serão fatalmente condenados. É Deus quem escolhe os salvos de acordo com sua soberania, não podendo o ser humano fazer nada para receber a salvação e a vida eterna. Mas como saber se somos predestinados à salvação ou se seremos condenados? Saber com certeza não é possível, mas um sinal da predestinação é um indivíduo trabalhar duro e prosperar com o seu trabalho. Prosperar aqui não significa enriquecer, mas viver bem com os frutos do nosso trabalho.

  • Os puritanos (grupo de protestantes ingleses surgido no século XVII) completaram a doutrina de Calvino pincelada acima. Para eles, o trabalho é uma vocação que Deus dá a cada ser humano. Se sou professor de Sociologia, foi Deus quem definiu isso para mim e me capacitou para isso. Desse modo, quando eu realizo meu trabalho, estou fazendo aquilo que Deus quer e estou prestando um culto a ele. Se meu trabalho é a minha vocação e é uma maneira de cultuar a Deus, eu não posso gastar o dinheiro do meu salário com luxos, com os prazeres do mundo e com coisas para ostentação, pois isso desagrada a Deus. Eu devo, segundo o puritanismo, gastar meu salário com aquilo que é necessário para a minha sobrevivência e a da minha família. Devo, então, viver uma vida mais modesta possível (ascese), porque tudo mais seria vaidade, e vaidade é pecado.

  • De acordo com Weber, vários indivíduos na Europa, ao serem influenciados pelas doutrinas calvinistas e puritanas, passaram a trabalhar duro, a levar uma vida ascética, a poupar o que sobrava do seu salário e a investir o dinheiro acumulado em suas poupanças com o seu trabalho. Foi esta ação de trabalhar, poupar, acumular e investir que provocou o estabelecimento de diversas indústrias, principalmente na Inglaterra e nos Países Baixos, que mais seguiam as doutrinas protestantes analisadas acima.

  • Calvinistas e puritanos foram responsáveis também pelo que Weber chamou de racionalização e de desencantamento do mundo. Segundo o autor, racionalidade é a consideração dos fins e dos meios antes de se realizar uma ação. Como os protestantes tinham como objetivo (fim) agradar a Deus, passaram a trabalhar duro, viver uma vida ascética, poupar, acumular e investir (meios). Já o desencantamento do mundo é a eliminação da magia, que Weber define como uma relação de troca com a divindade. Se Deus é soberano em suas decisões e ações, não faz sentido para um cristão reformado oferecer algo a ele em troca de alguma coisa que se deseje.

  • A racionalização surgida no protestantismo de tradição calvinista alcançou outras esferas da vida humana, como a administração das empresas capitalistas e do Estado, já que tanto as empresas quanto os Estados agem a partir da consideração da melhor maneira para alcançar seus objetivos.

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