sábado, 30 de abril de 2022

Trabalho e Sociedade: Durkheim e o Trabalho como Gerador de Solidariedade



Fonte da imagem: Portal da Kukos
  • Durkheim criou o conceito de divisão social do trabalho para descrever o processo de especialização das várias funções sociais, ou seja, a divisão das tarefas existentes em uma sociedade entre seus membros. Para ele, a divisão social do trabalho é um elemento de coesão das sociedades, pois gera interdependência entre os indivíduos que as compõem.

  • Segundo o autor, solidariedade é a força que mantém uma sociedade unida, coesa, garantindo a harmonia entre seus membros. Este ‘cimento social’ é produzido pela divisão social do trabalho. Como nem todos os membros de uma sociedade desempenham todas as funções que precisam para sobreviver e dependem de outros membros que desempenham essas funções, os componentes dessa sociedade se irmanam e criam laços uns com os outros devido a essa dependência.

  • Durkheim identificou dois tipos de sociedade, a partir de seu estado de divisão do trabalho, e afirmou que em cada um deles vigora um tipo de solidariedade. Temos, então, a solidariedade mecânica e a solidariedade orgânica. Antes de analisarmos cada uma delas, é importante dizer que o pai da Sociologia também identificou a existência de dois tipos de consciência. São elas: 1) a consciência coletiva, que é o conjunto dos valores, crenças e normas de uma sociedade introduzida na cabeça de cada indivíduo por meio do processo de socialização; e 2) a consciência individual, que é o conjunto de crenças, valores e desejos de cada indivíduo. Dependendo do tipo de sociedade e de solidariedade presente nela, uma dessas consciências será mais forte.

  • Existem aquelas sociedades mais simples, formadas por poucas pessoas e com poucas funções sociais a serem desempenhadas, o que produz pouca divisão do trabalho. Como exemplo, podemos citar uma tribo indígena, na qual seus membros dedicam-se ao cuidado dos filhos, à agricultura, à coleta, à caça, à pesca e à defesa. Como poucos são os membros dessa sociedade e poucas são as tarefas a serem desempenhadas, esta tribo promove uma divisão sexual do trabalho, na qual todas as mulheres cuidam juntas do cuidado dos filhos, da agricultura e da coleta e todos os homens tratam juntos da caça, da pesca e da defesa. Sociedades dessa maneira possuem membros muito semelhantes uns aos outros (já que eles realizam praticamente as mesmas atividades) e o sentimento de unidade entre eles se dá exatamente pela semelhança que apresentam. Esta é a solidariedade mecânica. Nessas sociedades, a consciência coletiva é mais forte que as consciências individuais e maior é a cobrança do grupo para que cada indivíduo cumpra aquilo que lhe foi determinado (maior é a coerção social).

    Fonte da imagem: Portal Rio Notícias

  • Por outro lado, existem sociedades complexas, formadas por muitas pessoas e com muitas tarefas que precisam ser realizadas. A nossa sociedade moderna e capitalista é uma delas. Temos a docência, a limpeza, a costura, a cozinha, a segurança a advocacia, a medicina, a enfermagem, a metalurgia, o comércio, a agricultura, a indústria, dentre várias outras funções. Uma pessoa só não consegue fazer tudo isso, portanto, a divisão e a especialização do trabalho são maiores, já que cada um de nós dá conta de uma dessas tarefas. Além disso, como cada sujeito se especializa em uma função, os membros da nossa sociedade são diferentes uns dos outros. Se eu me especializo em uma dessas funções, mas dependo de todas elas para sobreviver, preciso me irmanar aos outros sujeitos que fazem as outras coisas, mesmo que eu seja muito diferente deles. Nesse tipo de sociedade, então, vigora a solidariedade orgânica, que existe por causa da interdependência dos membros que a compõem. Nessas sociedades, as consciências individuais são mais fortes que a consciência coletiva, e a coerção social é menor.

    Fonte da imagem: Portal do Observatório das Metrópoles

  • Durkheim afirmava que a grande divisão e a grande especialização do trabalho na nossa sociedade são positivas, por um lado, exatamente por gerar a dependência a unidade que vimos acima. Por outro lado, o resultado pode ser um individualismo exacerbado e uma recusa ao convívio social, pois, se os indivíduos se veem como muito diferentes dos outros, tendem a não querer interagir com eles. Além do mais, se as consciências individuais são mais fortes que a consciência coletiva na cabeça de cada pessoa, menos influência os valores e as crenças da sociedade exercerão sobre ela e ela tenderá a seguir menos as regras e as normas de sua sociedade. Isso é o que o autor chama de anomia social. O autor propõe duas medidas para combater essas consequências negativas da divisão e da especialização do trabalho: 1) a criação de uma corporação de trabalhadores que regule a vida deles dentro e fora do trabalho, como faziam as corporações de ofício na Roma clássica e na Europa medieval; e 2) a criação de uma religião da sociedade, na qual as pessoas não prestarão culto a uma divindade sobrenatural, mas à humanidade e a seus valores.

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