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| Fonte da imagem: Portal do IEA-USP |
O conceito de trabalho, como muitos conceitos sociológicos, passou por uma série de transformações ao longo do tempo. Entendemos hoje que trabalho é a maneira por meio da qual os seres humanos transformam a natureza para produzir aquilo que precisam para sobreviver. Os seres humanos realizam trabalho porque, diferente dos outros animais, não conseguiriam sobreviver utilizando-se da natureza da maneira que ela se apresenta para eles, mas precisam transformá-la. Assim, transformamos pedras em tijolos e construímos casas, transformamos minério em aço e produzimos carros, transformamos petróleo em plástico e produzimos embalagens. Emprego, por sua vez, é o trabalho ‘encaixado’ na relação social que se estabelece entre patrão e empregado. É o que Karl Marx chama de trabalho alienado, que é o trabalho realizado para outra pessoa, utilizando-se dos recursos dessa pessoa e cujos frutos pertencem a ela, e não ao trabalhador.
Na Grécia e na Roma antigas e na Europa medieval, o trabalho era dividido em braçal e intelectual. Existiam, inclusive, duas palavras gregas diferentes para isso: o trabalho ponos se referia ao trabalho braçal e o trabalho ergon dizia respeito ao trabalho intelectual. O primeiro deles é aquele trabalho que utiliza a força física, é extenuante e era realizado pelas camadas mais baixas da sociedade (pelos escravizados, na antiguidade clássica, e pelos servos, durante o feudalismo). Já o trabalho intelectual é aquele que abrange as atividades contemplativas e de elevação espiritual, como a Filosofia, a religião, a política e a produção artística, e era realizado pelas elites da sociedade, que eram livres (pelos eupátridas e patrícios, na antiguidade clássica, e pelos nobres, durante o feudalismo). Desse modo, o trabalho braçal era malvisto e até mesmo inferiorizado por aqueles que podiam não o realizar.
Com o advento da idade moderna, principalmente a partir do estabelecimento do capitalismo industrial, tornou-se crescente a demanda por trabalhadores nas fábricas, mas como convencer as pessoas a trabalhar nas indústrias nascentes se o trabalho braçal era representado negativamente? A Reforma Protestante, principalmente a sua vertente calvinista e puritana, reabilitou a visão que as pessoas tinham sobre o trabalho, valorizando-o e considerando-o como algo que dignifica o ser humano. Aqui, o conceito de trabalho veio a abarcar as suas dimensões braçal e intelectual ao mesmo tempo.
O trabalho alienado e a superexploração dos trabalhadores nas fábricas desvelaram a contradição existente entre a ideia de trabalho como característica que nos torna seres humanos e como uma forma de realização pessoal, de um lado, e o trabalho degradante realizado pelos membros das classes não proprietárias para os membros das classes proprietárias dos meios de produção, de outro lado.
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