O povo Iorubá habita a região sudoeste da Nigéria e ainda hoje é um dos mais expressivos grupos étnicos africanos. Ele é originário da cidade de Ifé, situada na região citada, e se espalhou pelos territórios dos atuais países Benin e Togo.
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O Reino de Ilê-Ifé
Fonte da imagem: Pensar a História |
Duas narrativas dão conta da
origem do Reino de Ilê-Ifé, uma mitológica e uma histórica. A narrativa
mitológica conta que Olodumare, o Deus supremo do povo Iorubá, criou os Orixás
e atribuiu a eles a função de criar a vida no universo. Nesse sentido,
Olodumare chamou Obatalá (também conhecido no Brasil como Oxalá) e lhe entregou
um saco com o que seria necessário para criar a Terra: uma corrente, um punhado
de areia, uma galinha, um camaleão e outros elementos.
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Fonte da imagem: SymbolSage |
Obatalá era orgulhoso e vinha ao mundo físico sem fazer oferendas a Exu, desagradando esse outro Orixá. Exu, então, fez com que ele sentisse uma grande sede e sugeriu que Obatalá tirasse água de um dendezeiro para beber. Essa água era, na verdade, o vinho de palma, uma bebida alcoólica. Obatalá bebeu, embriagou-se e dormiu.
Nesse momento, Odudua, outro Orixá,
passou por perto, viu Olodumare dormindo, pegou o saco da criação e voltou com
ele para Olodumare. Deus, então, pediu que Odudua viesse ao mundo físico e
criasse a terra. Odudua ofereceu sacrifício a Exu, desceu do mundo espiritual
ao mundo físico pendurado na corrente e jogou o punhado de areia sobre as
águas, que já existiam, fazendo ali um monte de areia. Depois disso, Odudua
jogou a galinha em cima do monte de areia. A galinha ciscou a areia e
espalhou-a sobre a superfície da água, formando a terra. Em seguida, Odudua
jogou o camaleão sobre a terra. Como o animal não afundou na areia, o Orixá entendeu que
a terra estava firme, então desceu e terminou a criação com os outros elementos
que estavam no saco.
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Fonte da imagem: Oasis Magazine |
Quando acordou, Obatalá ficou
sabendo do que aconteceu e foi ter com Olodumare, que, em compensação, atribuiu
a ele a tarefa de criar os seres humanos. Para o povo Iorubá, o local exato de
onde se iniciou a criação do mundo foi a cidade de Ifé, onde se desenvolveu o
Reino de Ilê-Ifé.
De acordo com a narrativa
histórica sobre a origem do Reino de Ilê-Ifé, Nimrod, que habitava a região o
Oriente Médio, teve um conflito religioso com membros de sua família e migrou
para o oeste, chegando no território da floresta nigeriana, chamado Igbo. Nesse
território existia uma série de pequenos Estados, formados por comunidades de
agricultores. Oxeremabô era rei de um desses Estados e se opôs à chegada de
Nimrod. Este, então, entrou em guerra com Oxeremabô e perdeu a primeira
batalha. Com isso, Nimrod se aliou aos reis dos outros Estados e derrotou seu
rival, incendiando o palácio de seu rival com ele dentro. Após isso, Nimrod
unificou os Estados da floresta no Reino de Ilê-Ifé e tornou-se seu primeiro
Oni (rei), instaurando ali uma monarquia teocrática. É por esse motivo que a
tradição Iorubá considera que, até hoje. os Onis de Ifé são descendentes de Nimrod.
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Fonte da imagem: Portal da Fiocruz |
Nimrod era considerado pelo povo Iorubá como encarnação de Odudua e passou a se chamar assim quando chegou no território Iorubá. Oxeremabô, por sua vez, era visto como encarnação de Obatalá e também era chamado por esse nome. Vemos, então, que a narrativa mitológica, que expressa rivalidade entre os Orixás Obatalá e Odudua, reflete a rivalidade histórica entre Nimrod e Oxeremabô.
A cidade de Ifé foi fundada no ano 500 d.C., a partir de grupos de agricultores que passaram a ocupar a floresta nigeriana e o seu entorno, para o cultivo de inhame, dendê, sorgo, arroz e milheto, e alcançou seu apogeu entre os séculos XII e XV. O desenvolvimento da agricultura sobre a floresta e a sedentarização do povo Iorubá foi favorecido em grande medida pelo uso de ferramentas de ferro, daí a grande importância que esse elemento tem para o povo Iorubá.
Como a agricultura depende do
enfrentamento das condições naturais (os ventos, as chuvas, o sol, a
fertilidade da terra), essas condições foram atribuídas às forças
sobrenaturais. Por isso, os Orixás, que são as divindades do povo Iorubá, são
relacionadas às forças da natureza. Assim, Ogum é relacionado ao ferro, Oyá é
associada aos ventos e às tempestades, Xangô é ligado aos raios e aos trovões e Olokun é atrelada ao mar.
Em cada área do território Iorubá
na qual os agricultores se sedentarizaram, eles se especializavam no cultivo de
um gênero diferente. Assim, o comércio se desenvolveu, já que uma aldeia de
agricultores tinha que comercializar com as outras para obter aquilo que não
produzia. A exploração diferenciada das zonas ecológicas e o desenvolvimento do
comércio agrupou as aldeias de agricultores nos pequenos Estados que foram
unificados por Odudua.
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Fonte da imagem: Jornal Extra |
Ao unificarem-se, os Iorubá fortificaram sua cidade, com o objetivo de proteger-se da expansão do Império Mali, que descia pela bacia do rio Níger em busca de escravizados. A cidade de Ifé, unificada e fortificada com a construção de muralhas, estabeleceu uma hierarquia social em cujo topo estavam os Onis, que tinham função política e religiosa, os chefes das principais famílias, que se constituíam em chefias do Estado, e os sacerdotes, que eram importantes por buscar o favorecimento do povo pelas divindades.
A importância dos sacerdotes, que
no território Iorubá são chamados de babalaôs e babalorixás, é tão grande que
se criou um sistema de redistribuição por meio do qual parte das riquezas
produzidas no reino de Ilê-Ifé convergia para eles, na forma de remuneração
direta por serviços religiosos ou de oferendas aos Orixás, que ficavam com seus
representantes depois. Isso acontece porque, nas religiões africanas e
afro-brasileiras, aquilo que é oferecido aos Orixás não é desperdiçado, mas é
consumido pela comunidade.
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Fonte da imagem: Hablemos de Mitología |
O reino de Ilê-Ifé participava de
uma rede de comércio com o norte da África, na qual oferecia noz-de-cola e
manteiga-de-carité em troca de sal, escravizados e artigos de luxo para suas
elites políticas e religiosas, como espadas, joias, perfumes e cavalos. Nessa
rede, os Onis e sacerdotes tinham protagonismo, sendo os únicos que podiam
comercializar escravizados, por exemplo.
Foram os reis e os sacerdotes do
povo Iorubá que difundiram o culto aos Orixás para outras regiões da África
ocidental, como para localidades dos atuais Benin, Gana, Togo e Costa do Marfim,
à medida em que novos reinos derivados de Ilê-Ifé eram estabelecidos nessas
localidades. Foram também os Iorubá que trouxeram esse culto ao Brasil, no
contexto da escravidão africana nas Américas.
A arquitetura de Ilê-Ifé destacava-se pelo seu palácio e por seus templos. Era também era marcada pela construção de edifícios de pedra, de casas de argila e de ruas pavimentadas com azulejos de terracota. Outros destaques da cultura Iorubá são, primeiramente, as esculturas em tamanho real na forma de cabeças, feitas de bronze e terracota, cuja beleza se compara às esculturas do renascimento.
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Fonte da imagem: World History Encyclopedia |
Em segundo lugar, temos o culto aos Orixás, dos quais falamos acima. Por fim, a monarquia teocrática, na qual os reis são também considerados líderes religiosos, por serem descendentes de encarnações de Orixás, é um traço importante da cultura política de Ilê-Ifé, que foi difundida mais tarde para outros reinos Iorubá.
O Reino de Benin
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Fonte da imagem: The Art Institute of Chicago |
Benin foi um reino formado pelo povo Bini, ou Edo, localizado no sul da Nigéria, próximo de Ilê-Ifé, com quem teve íntima relação.
Oraniã, filho mais novo, ou neto,
de Odudua, conquistou o Reino de Benin, assumiu o trono e se casou com uma
mulher local, com quem teve um filho chamado Eueca. Junto com Oraniã, foram
para Benin um sacerdote e um mestre artesão, que levaram o culto aos Orixás e a
arte da escultura para lá. Oraniã deixou Eueca como o primeiro obá, ou rei de
Benin, e saiu para formar o Reino de Oyo.
Estabelecido no séc. XIII e com
apogeu no séc. XV, o reino de Benin era formado por três círculos concêntricos.
O primeiro envolvia a capital e era governado diretamente pelo obá. O segundo
abarcava terras governadas pelos príncipes reais. O último círculo era habitado
por grupos tributários do obá, mas que não eram governados por ele. A capital
possuía ruas largas, casas de adobe e o palácio real, formado por vários
prédios em que moravam o rei, suas esposas e filhos, e a nobreza, com suas
famílias, seu séquito e seus escravizados. Tinha também uma grande muralha de
aproximadamente 16.000km de extensão, sendo apenas menor que a muralha da
China.
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Fonte da imagem: Najimobile.com |
A prosperidade do reino de Benin deveu-se ao comércio regional, no qual servia como entreposto comercial. Negociava peixe, sal, inhame e gado, além de algodão e pedras preciosas, que não produzia. A partir de 1487, o reino de Benin passou a comercializar com os portugueses, que chegaram na costa africana em 1450. Oferecia miçangas, roupas de algodão, marfim, pimenta e escravizados em troca de tecidos da Índia, vidraçarias e búzios (que vinham da Pérsia e das Maldivas), além de cobre e bronze, com que seus artesãos faziam suas famosas esculturas.
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Fonte da imagem: Ensinar História |
Elementos importantes da cultura
do Reino de Benin eram as esculturas e as placas feitas em ferro, em latão e em
marfim, influências do Reino de Ilê-Ifé, a fabricação de joias de ouro e a
monarquia teocrática. Esse último traço manifesta-se na crença de que Oraniã, criador
da dinastia mais atual do reino, era filho ao mesmo tempo de dois Orixás,
Odudua e Ogum, sendo ele mesmo considerado como o Orixá das profundezas da
terra. Conta-se que Ogum, filho de Odudua, ao conquistar a cidade de Ogotum, levou
consigo entre os despojos de guerra uma linda mulher, chamada Lakanjé, e se
relacionou com ela. Mais tarde, Odudua, viu a prisioneira, se apaixonou por ela
e a tomou como uma de suas esposas. Lakanjé engravidou e teve um filho metade
negro, como Ogum, e metade branco, como Odudua, mostrando ser filho dos dois.
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Fonte da imagem: Candomblé da Bahia |
O Reino de Oyo
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Fonte da imagem: World History Encyclopedia |
O reino de Oyo localizava-se a sudoeste da Nigéria e alcançou seu esplendor entre os sécs. XVII e XIX. Teve estreita ligação com Ilê-Ifé. Diz-se que foi fundado por Oraniã, filho de Odudua, sendo ele seu primeiro alafim, ou rei. Após a morte de Odudua, Oraniã voltou a Ilê-Ifé, para assumir o trono, e deixou seu filho Dadá-Ajacá como segundo Alafim de Oyo. Este foi destronado por Tela Okô (filho de Oraniã com Torosi, princesa dos Nupe), que assumiu seu lugar como terceiro Alafim de Oyo. O povo Iorubá considera que Tela Okô é uma encarnação de Xangô, Orixá dos raios e dos trovões.
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Fonte da imagem: Crônicas de Etherion |
A proximidade de Oyo com Ilê-Ifé pode ser observada no culto aos Orixás, na monarquia teocrática e nas esculturas que produziam.
Fonte da imagem: Galerie Art Africain |
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Fonte da imagem: Fatherland Gazette |
Oyo comercializava quiabo, inhame, tâmara, óleo de palma, peixe, noz-de-cola, pimenta, cavalos, marfim, ouro e escravizados. No séc. XVIII, o reino de Oyo controlava o tráfico de escravizados com os europeus na Costa dos Escravos. Em troca, recebia produtos europeus que comercializava na região.
A partir do séc. XVIII, os Estados islâmicos do norte da África começaram a expandir-se com a intenção de espalhar a sua fé no continente. Esse movimento chegou ao sul da atual Nigéria no séc. XIX. Nesse período, o Alafim de Oyo envolveu-se em uma série de conflitos com a nobreza e o comando militar, motivado pelo choque entre a defesa de um comércio pacífico e a continuidade das expansões militares. Nesse contexto, Afonjá, um dos generais do Reino de Oyo, destronou o Alafim, com a intenção de subir ao trono, o que não aconteceu.
Como consequência da guerra civil, o reino dividiu-se em Estados menores, que guerrearam entre si até serem totalmente conquistados pelos invasores britânicos, que se lançaram à África no séc. XIX. Foi depois disso que os Iorubá passaram a ser vendidos como escravizados no comércio transatlântico e aconteceu a migração forçada em massa desse grupo étnico para as Américas, principalmente para o Brasil, com destaque para a cidade de Salvador, na Bahia.
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