sábado, 30 de abril de 2022

Introdução aos Clássicos da Sociologia: Émile Durkheim


 
Fonte da imagem: Portal Nova Escola
  • Émile Durkheim (França, 1858 a 1917) é considerado fundador da Sociologia enquanto uma ciência autônoma e acadêmica, vindo a ser o primeiro professor universitário da disciplina. Foi ele o primeiro a delimitar um objeto e um método para a Sociologia (ou seja, aquilo que uma Ciência se propõe a estudar e a maneira que ela vai realizar esse estudo).

  • O objeto da Sociologia, para Durkheim, é o fato social, que é toda a forma de ser, de sentir, de agir e de pensar que é externa aos indivíduos, que é geral em uma dada sociedade e que exerce sobre cada indivíduo uma coerção social, o obrigando a ser, sentir, agir ou pensar daquela forma. Por exemplo, a língua portuguesa é um fato social. Quando nós nascemos, não sabemos falar e temos que aprender com outros membros da nossa sociedade, por isso que ela é externa. Apesar de existirem pessoas que não falam a língua portuguesa vivendo no Brasil, ela é a nossa língua oficial e a maioria das pessoas daqui a fala. Por fim, em uma comunicação cotidiana, quando falamos outra língua, podemos sofrer uma pressão dos nossos interlocutores para que utilizemos a língua portuguesa.

  • Durkheim estava ligado à tradição positivista, que valorizava muito as Ciências Naturais e via na Biologia a rainha das Ciências de seu tempo (antes do surgimento da Sociologia). Por isso, ele defendeu a aplicação do método experimental das Ciências Naturais no estudo da sociedade.

  • Para Durkheim, a primeira regra do método sociológico é que o sociólogo deve considerar os fatos sociais como uma coisa, ou seja, como algo que não sofre interferência das opiniões, das crenças ou das vontades do cientista. Por isso, o sociólogo deve deixar de lado tudo o que pensa sobre a sociedade antes de estudá-la cientificamente por meio da Sociologia.

  • As outras etapas da prática da Sociologia são: 1) a observação dos fenômenos na realidade social; 2) a formulação de problemas e de hipóteses (ou seja, de perguntas que nortearão as pesquisas e de respostas dadas a essas perguntas antes das pesquisas propriamente ditas); 3) a realização de experiências controladas para a comprovação ou não das hipóteses (no caso da Sociologia, as experiências se dão por meio da pesquisa empírica e estatística, de acordo com o método de Durkheim); 4) o estabelecimento de leis e generalizações a partir da coleta de dados (ou seja, a explicação de fenômenos específicos, como os suicídios de indivíduos singulares, pode ser generalizado para aquela categoria de fenômenos, como o suicídio em geral); e 5) a formulação de teorias para a explicação dos fenômenos sociais.

  • Para Durkheim, todo o fenômeno social tem que ser explicado por outro fenômeno social. Explicações psicológicas e biológicas devem ser descartadas pela Sociologia porque elas são individuais, não coletivas. Por exemplo, o autor explica o suicídio não por aquilo que é específico de cada ato suicida, mas por aquilo que é comum a todos eles. Desse modo, o que leva os indivíduos ao suicídio é sua maior ou menor integração à sociedade.

  • Segundo o autor, cada prática social possui uma função na sociedade, portanto, tem importância e significado. Por exemplo, a escola é importante porque transmite às novas gerações os conhecimentos socialmente construídos. Em outras palavras, sua função é a socialização dos indivíduos. A Sociologia deve, de acordo com Durkheim, considerar as funções dos fenômenos sociais para cada sociedade, por isso seu método é chamado de funcionalista.

  • Explicar, na tradição positivista tem um significado específico, que é o de buscar as leis que regem os fenômenos. Lei, para a Ciência, é tudo aquilo que se repete. Por exemplo, qualquer objeto jogado para cima no Planeta Terra vai cair no chão com uma aceleração de aproximadamente 10 m/s2. Temos aqui uma generalidade, algo que sempre vai acontecer, por isso que falamos de Lei da Gravidade. Para os sociólogos positivistas, a sociedade também é regida por leis naturais, ou seja, também possui generalidades.

  • Durkheim possuía uma visão organicista da sociedade, ou seja, ele considerava a sociedade como um verdadeiro organismo. Os indivíduos seriam as células da sociedade, que se combinam dando origem aos órgãos que são os grupos sociais (por exemplo, uma escola). Os grupos sociais se combinam formando os sistemas sociais (por exemplo, o sistema de ensino). É a junção de vários sistemas sociais (sistema de ensino, sistema econômico, sistema de ensino etc.) que origina a sociedade. Cada elemento do corpo social deve ser considerado em relação com a totalidade da sociedade.

  • O método de Durkheim também é chamado de método comparativo, porque o autor afirmava que é possível comparar um sistema social específico em várias sociedades. Por exemplo, seria possível comparar o sistema educacional da sociedade ocidental, formada por escola, professores e alunos, dentre outros elementos, com o sistema educacional de algumas sociedades africanas, formado pelos mais jovens e pelos griôs (contadores de história, geralmente os mais velhos de cada grupo social), já que a função desse sistema nos dois contextos é a mesma, a socialização dos indivíduos.

  • Por meio da comparação das sociedades Durkheim propunha que era possível afirmar que existem sociedades mais simples e mais complexas. Sociedades mais simples seriam aquelas com menos instituições ou sistemas sociais elaborados (não há escolas, secretarias de educação e leis educacionais na relação entre crianças e griôs no sistema de educação tradicional de algumas sociedades africanas) enquanto sociedades mais complexas seriam aquelas com mais instituições ou sistemas sociais elaborados (a relação direta entre professores e alunos não é suficiente para o ensino-aprendizagem em nossa sociedade. Existem regras, leis, avaliações, notas e todo um conjunto de instituições que dão conta do processo de socialização entre nós).


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