A Relação entre Indivíduo e Sociedade: Durkheim e a Primazia da Sociedade sobre os Indivíduos

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• Toda a ciência tem um objeto próprio. A Física estuda a matéria e seus fenômenos no tempo e no espaço, enquanto a Biologia estuda a vida e os seres vivos. A definição do agente principal dos fenômenos sociais (sociedade ou indivíduo) tem a ver com a delimitação do objeto da Sociologia por cada corrente sociológica. Assim, para um grupo de sociólogos, a sociedade ou os grupos sociais são o elemento principal nessa relação, para outro grupo, os indivíduos se destacam, já para um terceiro grupo de sociólogos, existe a interdependência entre sociedade e indivíduos, sendo impossível dizer que um é mais importante do que o outro.

• Durkheim foi o primeiro a delimitar o objeto da Sociologia. Para ele, a Sociologia tem que estudar os fatos sociais. Segundo ele, a sociedade não é a soma dos indivíduos que a compõem, mas a síntese deles. Numa síntese, os elementos que se combinam para formar outro elemento dão origem a algo diferente deles. É o caso da água, que é a síntese de dois elementos que são gases na maior parte do tempo (oxigênio e hidrogênio), mas que dão origem a um elemento completamente diferente, que na maior parte do tempo se apresenta como líquido na natureza.

• A sociedade, além de ser diferente dos indivíduos que a compõem, é superior a eles. Isso acontece porque para formá-la, os indivíduos congregados no tempo e no espaço combinam as suas consciências, formando assim a consciência coletiva. A consciência coletiva é um produto diferente das consciências individuais que a originaram e se impõe com maior ou menor força a todos os indivíduos. Fazem parte das consciências individuais as normas, as regras e os valores de uma sociedade.

• É porque entende que a sociedade é superior aos indivíduos que Durkheim afirmava que os fatos sociais são gerais em uma dada sociedade, são exteriores aos indivíduos que compõem essa sociedade e exercem sobre os indivíduos uma força coercitiva. Os fatos sociais são, então, formas de ser, sentir, agir e pensar que vêm da sociedade para os indivíduos.

• Os indivíduos nascem dentro de uma sociedade e aprendem a fazer parte dela. Eles aprendem a língua falada em sua sociedade, as roupas que podem ou não vestir, as regras e as leis da sua sociedade etc. Por isso, Durkheim defendia que a sociedade é anterior aos indivíduos e tem primazia sobre eles.

• Enquanto uma síntese dos indivíduos, a sociedade seria mais complexa do que eles, assim como um carro é mais complexo que as peças que o formam e os organismos são mais complexos que os órgãos que o compõem. Além disso, a sociedade possuiria uma ordem que determinaria a função de cada indivíduo e de cada grupo social visando à sua manutenção.

• Caso a ordem social seja mantida e os indivíduos e grupos sociais cumpram a sua função, a sociedade será coesa e saudável. Quem garante isso é a solidariedade gerada pelas instituições sociais (família, escola, religião, organizações profissionais). Por outro lado, quando os indivíduos ou grupos sociais não cumprem sua função ou quando as instituições sociais não conseguem gerar solidariedade, a coesão social é ameaçada e a sociedade entra em um estado de anomia (ausência de regras), que é um estado patológico (doença).

• A perspectiva de Durkheim privilegia em sua análise a estrutura da sociedade, ou seja, o conjunto de princípios que ordena os indivíduos e as instituições sociais e determina seu comportamento e seu funcionamento.